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Foto do escritorJunji

Tricô, uma técnica de sobrevivência

Atualizado: 17 de mai. de 2018

Olá, seres vivos.


Tudo bem com vocês? Finalmente decidi escrever meu segundo post, e ele vai ser sobre um hobby que eu comecei há menos de um ano: o tricô. Antes de vocês virarem a cara, torcerem o nariz e mimizar “Mas tricô é coisa de vovózinha”, deixa eu explicar os motivos e também o porquê da “vovózinha” ser mais feliz do que a gente da geração Y (eita).


Não sei se vocês sabem, mas eu sou muito ligado a trabalhos manuais e arte. Desde criança eu sempre gostei muito de pintar e desenhar, usando desde tinta guache e giz de escola até Copic Markers e canetas de finalização de arte. Por volta dos meus cinco anos, lembro-me de sair xeretando os armários da minha mãe e roubar os livros de origami (dobradura japonesa) junto com os papéis e aprender por mim mesmo. Ela sempre tentou, em vão, esconder de mim, mas o terrível ser curioso que sou sempre achava o local onde ela os guardava.


Outro passatempo dela que me deixava sempre curioso era o crochê. Sempre achei fascinante como uma agulha e uma linha podia criar um emaranhado organizado (que, convenhamos, se você não entende bulhufas dos paranauê, pra você, o tapete lindo de crochê vai ser um emaranhado, mesmo que esteja organizado) pra criar as mais diversas peças. Como sempre fui uma criança que adorava ficar no círculos dos adultos e engajar nas conversas, aprendi visualmente como fazer crochê, mesmo que nunca tivesse pegado numa agulha até o ano passado.


Mas, para falar a verdade, sempre fui realmente fascinado com tricô e como diabos duas agulhas que mais pareciam estacas assassinas conseguiam tecer um pedaço de pano. E, para piorar, no Brasil não é comum a cultura do tricô, uma vez que o clima é quente e úmido (o que é um equívoco, já que é possível tricotar com fios de algodão e criar peças lindíssimas).

Meias coloridas do pôr-do-sol.

Com a era do YouTube e após morar sozinho durante anos no Japão, finalmente decidi sanar minha curiosidade e procurar sobre tutoriais de como tricotar. Entretanto, ano passado foi realmente quando eu me apaixonei realmente pelo trabalho quando vim à Suécia e conheci uma professora de artesanato.


Muitos websites listam os benefícios do tricô, mas acho que eu gostaria de listar abaixo os motivos pelos quais eu sou apaixonado por ela.


1. Coordenação motora


Obviamente, quanto mais você pratica trabalhos manuais, mais coordenação motora você desenvolverá. Para aqueles que querem desenvolver sua destreza, certamente o tricô é uma opção válida. Afinal, você precisa segurar duas agulhas simultaneamente, controlar a tensão dos fios com as duas mãos, mantendo sempre a velocidade e a precisão constantes. Em níveis mais avançados, movimentos mais complexos exigem maior destreza dos dedos.


2. Meditação


Pode soar um pouco estranho, mas tricotar exige um certo nível de concentração, o suficiente para você "não perceber" o que você está fazendo, especialmente quando a receita não exige mais de um ou dois tipos de ponto. Há uma reportagem disponível no YouTube onde penitenciários são ensinados a tricotar e todos têm uma positiva reação à experiência.


3. Saúde mental


Quando criança, nunca escutei falar muito sobre a importância de manter a saúde mental, e assuntos como depressão eram um tabu na minha família. Após anos morando no Japão, fui diagnosticado com transtorno bipolar, onde tenho raros episódios de mania (no meu caso tenho uma elevada agressão, propensão à discussão e as mais diversas compulsões) e comuns episódios de depressão. Apesar de atualmente tratar a doença como medicamento, acredito que o tricô me ajudou a manter o foco que necessitava para me manter são (na medida do possível, heh) e percebi que meus sintomas melhoraram bastante. Quando se termina uma peça, por menor que ela seja, uma sensação de que você terminou algo toma conta e isso ajuda em níveis inimagináveis na auto-estima.


4. Para todas as pessoas


Um dos equívocos que há, praticamente, no mundo todo, é de dizerem que o tricô (ou crochê, bordado, pintura em tecido, etc) é um trabalho feminino. Quero lhes fazer uma pergunta: você precisa de seios - ou ,biologicamente falando, qualquer outra parte da mulher - para tricotar? Até onde eu saiba, só é preciso de agulhas, linha e mãos - a menos que, por algum infortúnio, você tenha uma incapacidade física medicamente reconhecida para tal. Lembro-me de alguns anos atrás alguns homens cis reclamando no Facebook que o Roberto Hilbert era um “homão da porra” porque ele era limpador de fraldas de bebê, cozinhava num programa e fazia crochê. O que eu percebi é que muitos homens, especialmente os heterossexuais, às vezes têm o interesse ou a curiosidade de tentar os terríveis “trabalhos femininos” por conta do preconceito. Honestamente, acho que se você tem a curiosidade e quer começar o tricô - ou qualquer outro tipo de tarefa - não sinta-se intimidado pelas opiniões alheias. Quem faz sua vida é você e quem te julga pela sua diversão é quem está perdendo nesse jogo.


5. BÔNUS: o tricô é uma técnica de sobrevivência


Imagine que você se perdeu numa ilha e agora está sem roupa para proteger sua delicada pele de ser humano. Você só tem suas agulhas de tricô e, achando qualquer animal com pelos, é possível criar fios para tecer uma peça. , você vai ter uma peça de roupa em poucos dias caso o resgate não chegue. Eu sei que o cenário é quase improvável, mas o mais real de tudo é que você VAI ter um par de agulhas de tricô com você quando você começar a tricotar. Acredite, às vezes tenho até três pares na minha mochila.

Sobrevivendo no parque de Ohori, cidade de Fukuoka.

Por fim, gostaria de deixar registrado como se escreve tricô nos idiomas que eu sei: knitting (inglês), tricot (francês), amimono (編み物, japonês) e stickining (sueco).


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